8.11.10

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.  Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil, e os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho, e o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes, és todo certeza, já não sabes sofrer, e nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer, chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

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